Ser

Extraído de:
JESUS: O Mestre Interior (São Paulo:Martins Fontes, 2004), pgs. 305-306.

Se é para abraçarmos a eternidade da plenitude de ser (o "Eu Sou" de Deus), precisamos primeiro encarar a dura realidade da impermanência e do vazio. Somos tentados sempre a reduzir a profundidade, de modo a ficarmos apenas em níveis superficiais da consciência, e até mesmo adormecer. O Buda alertou para o entorpecimento da mente, neste ou em qualquer outro estágio da jornada, com tóxicos ou sedativos, estimulantes ou calmantes. Jesus exortou a todos para ficarem plenamente conscientes: 
Estai de sobreaviso, vigiai, porque não sabeis quando será o tempo... Vigiai pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa chegará, se de tarde ou à meia noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que vindo de repente, não vos encontre dormindo. O que digo a vós, o digo a todos: vigiai! (Mc 13, 33-37) 
Na carta aos Efésios, Paulo diz que esta afirmação sobre a vigilância conduz aos "poderes espirituais da sabedoria e da visão" até à gnose do conhecimento espiritual. Contudo, mesmo aos dotados de muita fé, o desafortunado senso de separação não se dissipa mesmo quando alguma sabedoria desponta. A parede do ego pode parecer um obstáculo intransponível, um beco sem saída, que nos deixa sem ter para onde correr. Todavia, como a Ressurreição nos faz pensar, o que parece ser o fim, de fato não é. Ao encararmos nosso egoísmo entrincheirado e, reconhecendo sua morte vagarosa, a meditação nos ajuda a verificar nossa própria ressurreição em nossa própria experiência. 
A lei da natureza inferior, do karma, e a dominação do ego que nos limita, reinam até que, até aparecer um furo na parede. Primeiro, removemos um tijolo, como se por uma mão invisível, e divisamos uma perspectiva que está além de tudo o que havíamos pensado anteriormente, ou que éramos capazes de conhecer. É uma experiência e, ainda assim, a experimentamos de uma maneira que não se parece a nada que tenhamos experimentado antes. Não somos mais a pessoa meramente individual que pensávamos ser. A vida mudou irreversivelmente. Vivemos e, ainda assim, como São Paulo, não mais vivemos.
Eu sou porque eu não sou.

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