A Linguagem dos Pássaros - Farid ud-din Attar

do livro A Linguagem dos Pássaros, de Farid udDin Attar,
pg 110 e 111, Attar Editorial.



Capítulo XXI - Desculpas de um quinto pássaro

Outro pássaro disse à poupa: "Sou meu próprio inimigo. Como aventurar-me neste caminho se levo comigo o assaltante que deverá deter-me? Como posso viajar com um tal perseguidor? Minha alma concupiscente, minha alma de cão, não quer submeter-se; sequer se como salvar minha alma espiritual. Reconheço bem o lobo no campo, porém este cão da alma, belo na aparência, ainda não me é bem conhecido. Estou na estupefação por causa desta alma infiel, e gostaria de saber se ela poderia ser-me conhecida afinal".

A poupa respondeu: "Ó tu que és como um cão vadio, sempre errante! Tu que és pisoteado como a terra! Tua alma é ao mesmo tempo vesga e caolha: como poderia servir-te de guia? Ela é vil como um cão, pesarosa e infiel. Se alguém se aproxima de ti, é somente porque está deslumbrado pelo falso brilho de tua alma. Quando escutas elogios, tua alma incha-se de orgulho, mesmo sabendo o quanto são injustificados. Não é bom para este cão que seja mimado e engordado artificialmente. O que foi tua infância senão um tempo de necessidades e ignorância, debilidade e despreocupação? Na metade da vida, tudo é individualismo e excentricidade, lutas e perigos, e o conhecimento de que neste mundo tu és um estranho. Então, quando a velhice se aproxima de nós, a alma torna-se lânguida e o corpo débil. Com uma vida assim desarrazoada, disposta dessa maneira pela loucura, como poderá a alma adquirir as qualidades espirituais? Vivemos na despreocupação do princípio ao fim, e é nada o resultado que obtemos. O homem acaba por obedecer à alma concupiscente que submete a tanta gente. Frequentemente um homem chega ao fim vazio, com nada em si senão um desejo pelas coisas exteriores. Milhares de corações sucumbiram nesta aflição, e o infiel cão da alma nunca morre".

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